A inevitabilidade do esquecimento
Durante o início dos anos 50, a Indonésia estava criando um sentimento de nacionalidade, um esforço nacional (e nacionalista) para moldar uma idéia homogênea de identidade através de valores e manifestações culturais.
Tornar-se uma nação era tornar-se indonésio (e vice-versa). Em meio a planos de centralização, nativismos traiçoeiros, correntes de mobilidade cultural, esquemas da Guerra Fria e múltiplos modelos de modernidade que competiam entre si. Estes não foram somente examinados nos intensos debates intelectuais, mas afetaram irreversivelmente a forma como os indivíduos se percebiam.
Para uma classe média urbana, esse senso de identidade foi moldado pelas circunstâncias da vida cotidiana na nova nação moderna.
Nesse momento, bem na praça central de Semarang, em um bairro chinês de educação holandesa, uma família javanesa-chinesa administrava uma livraria e uma editora independente de histórias em quadrinhos, onde eles cultivaram sua própria versão da modernidade, e sua nova identidade como indonésios.
Todas as noites antes de fechar, o mesmo disco de vinil rodava no toca-discos perto do Caixa tocando Jambalaya (On the Bayou) pela cantora estado-unidense de nove anos Brenda Lee.
As respostas indonesianas à questão da cultura e da modernidade apareciam em diferentes formas de expressão artística.
Os quadrinhos fizeram parte do mesmo plano de construção da nação e busca por identidade, mesmo assim permanecendo à margem da arte e da história, subjugados, esquecidos, e difamados meramente como importações do Ocidente.
Não resta praticamente nada do que antes era um campo de possibilidades para uma juventude urbana que estava chegando ao amadurecimento, onde o pluralismo étnico, a diversidade cultural e a formação de identidades heterogêneas eram possíveis através dos mundos alternativos oferecidos pelos quadrinhos.
Apenas memórias residuais e os escombros da Toko Buku Liong, cujos fundadores, juntamente com seus oito filhos, emigraram para o Brasil em 1958. Presumivelmente por medo de uma compreensão traiçoeira da lei de regulamentação do Presidente contra os chineses, conhecidos como PP10.